Guia Básico – Prevenção de Assimetrias Cranianas
Prevenção de Assimetrias Cranianas – Guia Básico foi produzido com a intenção de informar pessoas interessadas em aprender sobre a prevenção do surgimento de assimetrias cranianas posicionais em bebês e o seu conteúdo foi embasado em evidências contidas em publicações de literatura científica. Todas as referências se encontram ao final do guia.
Acesso Rápido
Introdução
As assimetrias cranianas posicionais representam uma deformidade no crânio, fazendo com que ele adquira um formato particular.
Não somos perfeitamente simétricos, porém o formato do crânio do bebê comumente é ovalado e convexo por inteiro. Isso significa que qualquer formato que possua pelo menos uma área planificada (achatada), pode representar uma assimetria. Porém, sua implicação depende da classificação e do grau de severidade que deve ser avaliado por um profissional especializado na área.
Plagiocefalia
Braquicefalia
Escafocefalia
Quando o crânio possui um formato mais alongado e suas laterais são mais estreitas [3].
Também é possível que os bebês que apresentem a combinação de mais de um tipo de assimetria (exemplo: braquicefalia e plagiocefalia).
Cranioestenose x Assimetria Craniana Posicional
A cranioestenose é considerada a assimetria craniana verdadeira. Nesse caso, a alteração no formato da cabeça do bebê ocorre devido ao fechamento precoce de uma ou mais suturas cranianas e seu tratamento é cirúrgico [5, 6, 7].
O olhar do profissional capacitado é essencial e suficiente para definir a necessidade de encaminhamento para um médico especializado, a fim de realizar o diagnóstico diferencial através dos aspectos clínicos e exames de imagem. Essa conduta é raramente necessária e reservada apenas para os casos onde há dúvida do diagnóstico durante exame clínico [8].
Fatores de Risco
Fatores controláveis
- Uso excessivo de acessórios que restringem a mobilidade do bebê, como: carrinho, bebê conforto, cadeirinhas, ninho e outros.
- Segurar o bebê sempre do mesmo lado.
- Permanecer muito tempo na mesma posição nos primeiros meses de vida.
- Presença de torcicolo muscular congênito.
Como Previnir
1. Limitar o uso de dispositivos que restringem a mobilidade do bebê
O desenvolvimento motor dos bebês acontece através do movimento. Restringir sua movimentação os impede de explorar satisfatoriamente o ambiente em busca de novas aquisições
É necessário proporcionar ambientes seguros em que eles estejam livres para se desenvolver da melhor forma possível.
Controle o tempo diário em dispositivos que diminuam sua mobilidade (carrinho, bebê conforto, cadeirinhas, ninho e outros) de 1 a 2 horas por dia.
Reserve o uso desses dispositivos para momentos de transporte ou de extrema necessidade.
Alternativas: tatame, tapete, chão, cercadinho, sling.
Referências: [10, 11, 12, 13].
2. Tempo de bruços (Tummy Time)
Podemos colocar os bebês de bruços desde o primeiro dia de vida
Estabeleça um tempo diário nessa posição (quanto mais tempo, melhor).
Normalmente os bebês menores toleram pouco tempo de bruços. Mas isso não é um problema, pois não precisa ser contínuo, o mais importante é que seja realizado diversas vezes ao dia. Continue insistindo!
Nada substitui o chão, mas também é possível deixar o bebê de bruços no colo ou no peito dos pais.
Colocar uma almofada de amamentação, rolinho de toalha e cotovelos apoiados no chão à frente dos ombros pode ajudar os bebês de 0 a 3 meses.
Dicas de segurança: realizar em superfícies firmes, sem risco de quedas, com supervisão e sempre quando o bebê estiver acordado.
Referências: [10, 11, 12, 13].
3. Alternância de posições
Alterne a posição do bebê no colo ao ninar, entre cada amamentação, para arrotar, durante as trocas de fraldas e no berço a cada semana (para que ele não esteja sempre com o mesmo lado do corpo virado para a parede e o outro lado sempre virado para o que há de chamativo no quarto).
Preste atenção no posicionamento que todos os cuidadores seguram o bebê (atentar-se ao lado da cabeça que se encontra apoiado no colo).
Alterne a posição da cabeça entre cada soneca (direita, esquerda, centro).
Referências: [10, 11, 12, 13].
Alertas
Esteja sempre atento para uma “posição de preferência”, pois se for observado, pode representar um torcicolo.
Preste atenção em como o bebê passa o tempo dormindo e também acordado (está sempre com a cabeça inclinada para o mesmo lado ou sempre vira a cabeça para o mesmo lado?).
O torcicolo do bebê está altamente relacionado com a plagiocefalia posicional [3].
Se ele sempre estiver inclinado ou virado para o mesmo lado, fale com o seu pediatra e/ou com um fisioterapeuta especializado.
As orientações preventivas aqui contidas, são indicadas especialmente para cuidadores de bebês de 0 a 3 meses que não possuam alterações estruturais, musculares, congênitas e/ou posturais capazes de desencadear uma assimetria craniana.
Se você já identificou alguma dessas condições no seu bebê, está na hora de procurar pelo tratamento. Não espere para ver se vai melhorar sozinho!
Monitore-o tirando fotos em diferentes ângulos e busque ajuda profissional do seu pediatra e/ou de um fisioterapeuta especializado assim que desconfiar de alguma área de achatamento, assimetria de testa, de orelhas, mandíbula ou olhos.
Assimetrias cranianas não têm consequências apenas estéticas, podem ser prevenidas e têm tratamento.
Casos moderados e severos podem alterar a conformação dos ossos do crânio a ponto de desencadear problemas funcionais como: má oclusão dentária, alterações visuais, atraso no desenvolvimento motor e outros.
As orientações e o tratamento dependem da idade do bebê e do grau de severidade da assimetria. Devem ser realizados de forma individualizada após uma avaliação.
Referências: [14, 15, 16, 17, 18, 19, 20].
Responsáveis
Dra. Carla Gonçalves, osteopata com certificação especial pelo Idot, Fisioterapeuta pela Universidade de Araraquara, realizou curso de aprimoramento em RPG/RSM – Reprogramação Postural Global e Reprogramação Sensório Motora. Possui formação em Osteopatia Músculo Esquelética e Neural, Osteopatia Postural, Osteopatia Visceral e Vascular, Osteopatia Craniana e Osteopatia Informativa pelo IDOT. Realizou curso Internacional em Osteopatia Pediátrica por Caroline Stone, D.O Inglaterra – Módulo I e II, curso Internacional de Osteopatia pediátrica por Francisco Fajardo, D.O Espanha, curso avançado de osteopatia pediátrica pelo IDOT, curso avançado em Reflexos Primitivos e suas repercussões clínicas. Está em formação em Terapia Manual Pediátrica Integrativa -TMPI por Inaki Pastor. Realizou treinamento sobre o tratamento das assimetrias cranianas posicionais (prevenção, reposicionamento, fisioterapia e órteses cranianas) na clínica Fisioterapia Bebê by Carolina Matarazzo. Atua na área de torcicolo congênito e assimetrias cranianas posicionais há 5 anos.
Dra. Luíza Rocha Soares, fisioterapeuta formada pela Universidade de São Paulo (FMRP-USP), realizou estágio extracurricular em “órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção (OPM) em Oficina Ortopédica” no Centro de Reabilitação (CER) do HC-FMRP-USP (2020) e foi Vice-Presidente da Liga de Atenção à Saúde da Criança e do Adolescente (2020). Possui certificação em Bandagem Aplicada a Reabilitação Neurofuncional, curso internacional sobre o tratamento de plagiocefalia posicional por Baby Begin Education e curso básico sobre o manejo de Assimetrias Cranianas para pediatras e demais profissionais da saúde por Osteo Kids. Realizou treinamento sobre o tratamento das assimetrias cranianas posicionais (prevenção, reposicionamento, fisioterapia e órteses cranianas) na clínica Fisioterapia Bebê by Carolina Matarazzo.
Direitos Autorais
A autoria do texto e das imagens é de propriedade do Instituto Fisit, clínica de fisioterapia especializada no tratamento das assimetrias cranianas posicionais e torcicolo muscular congênito.
Referências
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